sexta-feira, 2 de março de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (11)


- Justamente porque você pensa que vive em um lugar e vaga por outro, como se fossem vidas paralelas! Fica como os tolos da Filosofia e da Ciência procurando razão para o que não tem razão! Para o que apenas é! Se você esta aqui em um momento e ali no outro, tudo isto é extensão de uma única vida, mas você se crê fragmentando! Você acredita ser um homem de duas vidas.

- Temo estar enlouquecendo!
- E o que é a loucura senão a tolice dos homens frente à sabedoria de Deus?
- Eu não acredito em Deus!
- Então você já estava louco muito antes de tudo isto acontecer!
- Vocês dois são loucos! Cada um de um jeito! Interrompeu Valdomiro, observando-os enquanto se espreguiçava.
O banquete na tarde anterior os manteve satisfeitos, assim, sequer mencionou-se um café da manhã. Sem qualquer diálogo, os andarilhos estavam prontos para seguir; o gigante estava pronto para ficar. Valdomiro examinou as costas de Marcus, que já não latejavam tanto. Nenhum sinal de infecção, embora fosse claro que algumas feridas, mais profundas, demorariam a se recuperar completamente, além de deixar cicatrizes. Postado ao lado do guardião, Marcus fitou o gigante uma última vez, esperando alguma consideração final. Ela veio nos seguintes termos:
- As trevas são a ausência da Luz. Não se luta contra as trevas, apenas se acende a lâmpada.
O Sol parecia estar aguardando esta deixa, pois seus primeiros raios diretos atingiram o rosto de Marcus exatamente quando Peregrino terminou sua máxima.
- Ainda me sinto no escuro!
- É por isso que seguirá em frente!
Os andarilhos se voltaram para o norte e seguiram. Depois de alguns metros, Marcus olhou para trás, mas não havia mais ninguém. Imaginou que o gigante retornara ao seu esconderijo na encosta, de onde examinaria o Oeste, sua agonia, como havia dito, enquanto aguardava o substituto. Refletiu sobre a possibilidade de retornar para lá, um dia, mas não se via em condições de assumir uma vida de Fé equivalente à daquele homem. Pensava no comentário sobre a Filosofia e a Ciência. De alguma forma, sentia que assim como não estava preparado para a Fé no etéreo cultivada pelo Peregrino, tampouco seria capaz de alimentar uma Fé pelo concreto, como a da Ciência. Sentia-se no meio. Por um momento pensou nestes termos “Meu caminho é o caminho do meio!” e se agarrou à razão como a lâmpada que viria a acender.

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