sexta-feira, 16 de março de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (13)


- Uma fogueira?
- Tudo é possível! Riu Valdomiro

A novidade não alterou o ritmo da caminhada. Não estavam eufóricos, apenas tranquilos. Pela proximidade do meio dia Marcus imaginou se não seria alguém preparando algum tipo de almoço, mas o que estaria queimando? Pensar em coisas assadas deu-lhe fome, mas não quis perturbar o guardião parando para pescar. Comeriam mais tarde. Marcus começou a caminhar mais próximo à beirada oeste, já em busca de algum abrigo, mas algo parecia errado no relógio mental do guardião, que seguia reto bem no meio da estrada, ignorando o vento iminente. Marcus começou a ficar tenso. Chamou o guardião, mas este parecia ignorá-lo, como que em transe.
- Você está bem? Está na hora!
- Hoje não, Rapaz! Hoje não tem vento que me tire do meu caminho!
Marcus ficou impressionado com a súbita fé em “sabe-se lá o que” daquele homem simples, mas decidiu confiar nele, por mais absurda que fosse aquela atitude. Mais uma vez a água se movimentou no extremo leste, e isto preocupou Marcus. O vento chegava com rapidez, claramente visível pelo encurtamento no espelho d’água até que não existisse mais espelho. O vento forte e impetuoso agitou as roupas do guardião, mas ele seguia firme. Marcus tentou acompanhar o passo, mas manteve o corpo quase que deitado para o leste, como uma motocicleta em curva, tamanha a força do vento que se projetava contra ele. Não entendia o que se passava com o guardião. Uma onda mais forte do vento o jogou no chão, quase na beirada oeste do precipício, e mesmo caído continuava a ser arrastado naquela direção. Quando estava para ser lançado além do parapeito Valdomiro agarrou sua mão. O corpo do guardião nada sofria. Para ele tudo era uma brisa, mas para Marcus a ferocidade do vento chegou a tal ponto que seu corpo foi suspenso do chão. Agarrou firmemente as mãos de Valdomiro e se lembrou do corpo agarrado ao pilar de metal. A cena era surreal. Marcus parecia uma pipa, totalmente suspenso no ar preso ao mundo por uma fina linha, as mãos de Valdomiro, que não parecia se esforçar mais que um garoto segurando linha e seda numa tarde de verão. Valdomiro deu alguns passos para trás, retornando ao centro da estrada, enquanto o vento se atenuava, de forma que Marcus pousou suavemente, em pé no caminho. Valdomiro foi quem falou, mas as palavras eram (ou pareciam ser) do Peregrino:
- Determinação, Rapaz! Você ainda não sabe aonde quer ir, por isso nada de prende aqui.

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