sexta-feira, 20 de abril de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (17)


- Tem certeza que quer fazer isto?
- Algo mai forte que o vento está tentando nos arrastar daqui. Não quer ver o que é?
- Tenho medo do que verei!

- Eu também, mas tenho que honrar o nome do Velho Valdomiro! Quem sou eu, se deixar que o medo me pare?
Marcus se calou. Seguiu o quase nada que podia enxergar do Guardião até a borda Oeste e com ele desceu para o “degrau”. Sentaram-se no chão, com as costas na rocha. Quando tudo estava no mais absoluto escuro, Valdomiro sugeriu que se deitassem junto à parede.
- Não sei você, rapaz, mas eu quase desmaiei ontem e não to nem um pouco a fim de cair neste buraco.
Marcus concordou. Deitaram sem dificuldades, cada qual com os pés na direção dos pés do outro, distantes um metro entre si. Novamente o som de onda veio do Leste, acentuando-se com rapidez. Começaram os silvos. Primeiro um, depois três simultâneos, algumas dezenas, vindos de diversas direções, e então um baque, nitidamente vindo da direção da lança, seguido de um urro ensurdecedor. Aquele som era tão profundo que parecia rasgar os tímpanos e o cérebro de Marcus, atordoando-o imediatamente. O último som que ouviu foi um baque vindo de sua esquerda, como se algo pesado tivesse caído no “degrau” seguinte. Seus olhos fecharam e foi com se tivesse cochilado ao dirigir, pois se abriram quase que no mesmo instante, totalmente despertos. Com os olhos abertos Marcus viu um branco profundo, como acontece quando abrem a cortina depois de uma longa noite sem luz. Conforme seus olhos se habituaram à nova luminosidade percebeu um teto à sua frente. Virou-se imediatamente para a esquerda, onde viu o Dr. Willian agachado, apanhando sua prancheta, que acabara de cair de suas mãos, provavelmente por ter cochilado enquanto escrevia.
- Me desculpe por isto, não queria assustá-lo! De qualquer modo, é bom tê-lo de volta!
Marcus não podia aceitar aquele lugar, depois de tudo o que havia experimentado. Ignorou o médico e fechou os olhos, como que em busca das trevas, já tão familiares. O som do homem de branco se levantando da poltrona adjacente ao leito deixou claro que permanecia no hospital.
- Eu estava apreensivo! Suas últimas anotações no caderno que lhe dei apontavam nossa última conversa como um sonho. Tive receio de perdê-lo de vez.
- Isto faria qualquer diferença?
- É claro que faria. Eu não quero ser um sonho! Disse o médico com um sorriso, esperando do paciente um bom humor que não se apresentou.

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