sexta-feira, 18 de maio de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (21)


Marcus dormiu antes que pudesse responder esta questão, supondo que possuísse qualquer resposta.
- Bem! Concreto é… começou a falar mas foi interrompido por Valdomiro

- Concreto é cimento com areia e pedra! “Tá” sonhando com o que, rapaz?
Marcus sentou-se, levemente desorientado, mas não surpreso. Já estava começando a se habituar ao tráfego entre os dois mundos. Devia ter amanhecido há algum tempo. Ainda havia nevoeiro, mas o frágil círculo luminoso no céu evidenciava que o Sol já estava a meio caminho do meio dia.
- Deixa pra lá!
- Vou deixar mesmo! Valdomiro estava agachado na beira do degrau, apontando para baixo. Exclamou. “Puta merda”, o que é aquilo?
Marcus correu para ver o que tanto impressionava o guardião. Mais apropriado seria dizer que Marcus não viu nada. “Nada” realmente seria a palavra adequada para a indefinição que estava caída no degrau seguinte, três metros abaixo dos pés daqueles atônitos observadores. Observava-se o contorno de um corpo grande, com cabeça, braços e pernas. Devia ter uns dois metros de altura, quando em pé. Os braços eram fortes e levemente mais compridos que as pernas, lembrando os traços de um gorila. Não havia sinal de asas, o que era um pouco frustrante, uma vez que a coisa estava voando. O “Nada” poderia descrever aquele desenho em função de um aspecto singular. Não era possível perceber volume. Era como um desenho feito no chão com tinta preta. Mais parecia um buraco, e seria fácil crer tratar-se de um buraco não fosse a lança do guardião cravada na área que corresponderia ao seu tórax, pouco abaixo do peito. Em um animal de pêlos negros é possível observar um brilho que evidencia as cerdas dos próprios pêlos e os relevos do corpo, mas ali não havia nada disto. Era o mais perfeito negro. Nenhum único brilho, detalhe, relevo, olhos ou boca podiam ser observados. Apenas os contornos. Era, em todas as definições possíveis, uma Sombra.
- Acha que está morto?
- Se não estivesse, já teria arrancado a lança ou se movido para algum lugar.
A reflexão de Valdomiro fazia sentido. O Sol já havia nascido há algumas horas e o “Nada” que avistavam havia sido atingido logo no início da noite anterior, portanto, caso tivesse sobrevivido teria mesmo que reagir de alguma maneira.
- O que afinal é isto?

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