Enquanto olhava para o mundo, sentiu um calafrio percorrer todo o corpo.
Virou-se rapidamente em uma reação instintiva e percebeu, aterrorizado, que não
era possível enxergar através do pequeno quadrado, na porta do quarto, que normalmente
apresentava a vista do corredor. Tudo preenchido por um profundo negro. Um
quadrado negro de trevas e ódio.
Assustado, deu um passo para trás, mas suas costas não atingiram a parede da janela. Caiu para trás em um vazio intangível. Por alguns segundos viu o céu e as paredes do prédio subindo vertiginosamente. Estava caindo. O forte vento decorrente de sua queda tornava-se cada vez mais consistente, até que apresentou resistência semelhante à da água. Algo agarrou um de seus braços, mas quando se virou para olhar estava tudo escuro demais. Ouviu a voz de Valdomiro, enquanto o puxava para uma área mais funda na água:
Assustado, deu um passo para trás, mas suas costas não atingiram a parede da janela. Caiu para trás em um vazio intangível. Por alguns segundos viu o céu e as paredes do prédio subindo vertiginosamente. Estava caindo. O forte vento decorrente de sua queda tornava-se cada vez mais consistente, até que apresentou resistência semelhante à da água. Algo agarrou um de seus braços, mas quando se virou para olhar estava tudo escuro demais. Ouviu a voz de Valdomiro, enquanto o puxava para uma área mais funda na água:
- Ele está aqui!
Felizmente seu palpite era real. O retorno da sombra fora precedido por
suas emanações de ódio, as quais despertaram Valdomiro em tempo de levá-los a
uma profundidade mais segura. Estava tudo muito escuro, mas quando se levantou
ainda foi capaz de perceber um ponto mais negro que o restante. Certamente o
local de onde a Sombra os observava faminta. Com uma das mãos Valdomiro lançou
uma pequena porção de água naquela direção, movimento seguido pelo som de água
fervendo. Não era possível determinar se a coisa recuara ou se permanecera
imóvel.
- Hoje ninguém dorme, Rapaz! Teremos que descansar de dia e viajar à
noite!
Marcus não respondeu. Com as duas mãos lançou mais água na direção da
Sombra, levando-a a emitir um urro de dor. As pernas dos andarinhos mais uma
vez fraquejaram, mas conseguiram manter-se em pé. Retomaram a caminhada para o
Norte com a água acima de suas cinturas, o que retardava o avanço. O corpo,
mais negro que a noite, os seguia pela margem do Espelho d’água. Estavam com
muito sono, acumulado do dia anterior, e cansados pelo esforço de caminhar
dentro da água, mas seguiram assim até surgir um azul mais claro no Leste,
sinalizando a aproximação da alvorada. Olhando para a estrada já era possível
perceber mais nitidamente a presença da Sombra, caminhando paralelamente aos
homens. Alguns instantes antes do nascer definitivo do Sol, virou-se e
mergulhou no abismo do lado Oeste.
Continua em #Vazio - A Fome das Sombras (28)
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