sexta-feira, 6 de julho de 2012

#Vazio - A Fome das Sombras (28)


- Eu não aguento mais isto. Esta coisa não vai parar até que estejamos mortos.
- É rapaz, a situação “tá” complicada.
- O que vamos fazer agora? Teremos mesmo que viajar mergulhados na água? Isso só vai nos atrasar.

- Sem balde, não tem outro jeito.
Saíram da água e pela primeira vez perceberam-se mais próximos da perturbação no Espelho d’água. Na verdade apenas uma impressão. A coisa parecia estar maior. Também parecia existir alguma variação no padrão da estrada. De onde estavam, nada mais que uma mancha na linha contínua que se estendia rumo ao Norte. Continuaram caminhando durante toda a manhã, aproveitando a facilidade do descolamento em solo firme.
- Acha mesmo que Deus tenha feito aquela coisa?
- Eu não acredito em Deus. Mas se ele existisse, implicaria que tudo, inclusive aquela Sombra, é criação dele.
- Claro que não, Rapaz. Que pecado dizer isto. Aquilo é coisa do diabo.
- Ora, e de onde você acha que o Diabo veio?
- Sei lá!
Marcus riu; não tinha qualquer intenção de discutir Teologia. Tinha preocupações mais práticas.
- Aquilo continuará voltando todas as noites. Você viu. O que faremos quando vierem as outras? Não teremos onde nos abrigar.
- Lamento rapaz. Não sei o que fazer.
Faltava aproximadamente uma hora para o meio dia quando o Guardião parou de andar e entregou a lança para Marcus.
- Sua vez!
Marcus entrou na água e ficou tão imóvel quanto possível. Demorou pelo menos um quarto de hora até que avistasse o primeiro peixe. Lançou a arma improvisada com a máxima precisão que era capaz. Acertou apenas água. Fracassou novamente nas duas tentativas seguintes.
- Eu não consigo.
- Então não vamos comer nada hoje.
- Por que você não pesca?
- Porque não sabemos o que acontecerá esta noite. Se eu morrer, você precisa saber se virar, Rapaz.
Marcus continuou tentando até a hora do Vendaval. Para sua infelicidade, realmente não haveria refeição naquele dia. Seguiram para o degrau inferior e esperaram o vento passar. Quando a calmaria retornou ao Oceano de água doce, Marcus entrou novamente na água e, mais uma vez, fracassou.

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