sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Conto - Sombras - Parte 2

O contraste entre o colorido vivo da bola e os tons pastéis da construção atraiu seu olhar para a casa em frente. A bola colorida aguardava imóvel, desafiando o homem desesperado que entrou na casa enfurecido e aterrorizado. Desejava que tudo fosse uma brincadeira. Temia imensamente que fosse outra coisa. O primeiro cômodo era uma grande sala com uma escada lateral, totalmente desprovida de móveis, portanto, sem um ponto para se esconder.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Conto - Sombras

Sombras ocultas entre sombras. Não se trata de redundância; havia ali mais (ou menos) que sombras comuns. Quem já mergulhou vidro transparente em água sabe do que estou falando. O vidro envolto em água desaparece, mas não se torna água, ainda é sólido, ainda quebra, ainda fere. De qualquer modo há mais (ou menos) que água.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Conto - O Sábio e os Ciclos

Tempos atrás houve um menino. Um dia viria a ser chamado "O Sábio", mas naquele momento era apenas um menino. Cresceu assistindo o ciclo das estações. Em certa época do ano as folhas caiam, os arbustos secavam, boa parte da plantação morria. Seu pai não lamentava: "Sempre foi assim…" dizia, "… e sempre vai ser assim. Precisamos cumprir nosso papel nestes ciclos até o dia em que nosso próprio ciclo chegar ao fim."
- E o que acontece no fim, pai?

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Conto - Folhas

      Dedico este texto à Professora Doutora Rita Paiva, pela confiança gratuitamente depositada neste estranho que, por fim, mostrou-se tão aquém de qualquer expectativa:

     Folhas secas de árvores voando no vento de inverno. Folhas secas de papel desordenadamente lançadas sobre a mesa. Folhas secas preenchidas de cor, amassadas enfurecidamente e lançadas por todo o espaço.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Momento

No ocaso de outro dia as cinzentas nuvens de chuva turvavam ainda mais a costumeira penumbra. A garoa cerrava os olhos, comprometendo a percepção já tão prejudicada. Tudo aconteceu naquele sutil limite entre o pôr-do-sol e o acender da iluminação pública.