- Do que está falando?
- Ora! Do seu encontro com o… Como se chama mesmo? Folheou rapidamente o
bloco de anotações afixado à sua prancheta e concluiu. Seu encontro com o
Peregrino!
- Esperava que você pudesse me esclarecer aquilo!
- Não sei! Desculpe-me! Desconfio que a presença do homem religioso nesta
sua própria peregrinação seja muito significativa! Mas ainda é obscura para
mim!
- E o que nele te chamou tanto a atenção?
- O efeito amortecedor que teve sobre “vocês”! Foi a primeira vez que o
médico tratava Valdomiro como parte relevante dos acontecimentos.
- Como assim?
- Ora! De algum modo a presença daquele homem amorteceu sua
racionalidade! Valdomiro, um símbolo de tristeza e desilusão caminhava com a
desenvoltura de um jovem cheio de sonhos e ilusões. Nem mesmo o “vendaval”
podia abatê-lo! Logo ele que, apesar do bom humor, estava sempre abatido em seu
íntimo! E você? Você foi tão fortemente convencido da profundidade daquela
experiência que até mesmo seu acesso a este mundo foi ofuscado. Nosso profundo
diálogo virou um sonho distante, praticamente esquecido!
- Entendo! E sobre o que conversamos?
- Deixe pra lá! É como eu disse no início! Não posso te ensinar quem é
você! Você é que tem que descobrir-se, assim, não posso criar lembranças
artificiais te falando de coisas que você não lembra por si mesmo!
- Tudo é confuso demais! O que quer que eu faça? Devo pular no penhasco?
- Não aconselharia! Sua certeza da concretude daquele mundo enquanto está
lá é tanta que poderia levá-lo a crer que morria!
- E isto me mataria aqui?
- Não acredito nisto! Mas talvez a firme crença na própria morte pudesse
levar sua mente consciente a algum estado primário de atividade. Uma quase
morte, entende? Você pararia de pensar, embora seu corpo mantivesse as
atividades fundamentais como respirar, bombear sangue, digerir alimentos. Algo
como um estado catatônico, ou seja...
- Pode deixar! Entendo o que quer dizer.
- Então me diga! Toda esta sequência de eventos é passível de alguma
interpretação, em seu próprio ponto de vista?
- Não doutor! Imagino que não!
- Tente fazer um esforço! O refletir sobre si mesmo pode ser revelador.
Continua em #Vazio - A Fome das Sombras (20)
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